Então Deus disse: Que haja luzes no céu para separarem o dia da noite e para marcarem os dias, os anos e as estações! Essas luzes brilharão no céu para iluminar a terra. - E assim aconteceu. Deus fez as duas grandes luzes: a maior para governar o dia e a menor para governar a noite. E fez também as estrelas. Deus pôs essas luzes no céu para iluminarem a terra, para governarem o dia e a noite e para separarem a luz da escuridão. E Deus viu que o que havia feito era bom. A noite passou, e veio a manhã. Esse foi o quarto dia.
Te recordas de teu primeiro contato contemplativo do céu que reluz na noite? Volte à infância que te presenteou o passeio noturno ao campo; ao chão de terra que muito dista das luzes da fantasia urbana: sobre tua cabeça paira o manto negro pontilhado do silêncio e do frescor da lua e das estrelas reais. Volte à lembrança e avive a mensagem indecifrável dos milhares de pontos cintilantes no negro disfarce da noite. Para onde inclinara teu coração diante do firmamento de fulgurantes estrelas? Sentiste desejo de adorá-las ou de recolher-te quieto sob a perplexidade da existência de coisas superiores?
Dei aviso a teus pais para que quando olhassem para o céu, não caíssem na tentação de adorar o sol, a lua ou as estrelas. Eu, o Senhor, Deus de teus pais, reparti o sol, a lua e as estrelas entre os outros povos, para que eles os adorem. Proibi teus pais de adorar qualquer coisa de minha criação, por mais belas e atraentes à percepção dos olhos. As luzes no céu separam o dia da noite. Não estão ali para que tu as adores. Elas estão lá para te estimular o desejo de investigar-me. Quis que tu crescesses à maturidade dos olhos, sem auxílio da escada enganosa, que nunca te poderá levar acima das estrelas. Meu desejo, que não muda - criança cansada de escadas de idolatrias! - é que tu te separes da noite; como eu a separo do dia.
Quando tu entrastes na eternidade do tempo da criação, tu fostes cercado de seres opacos, de outros povos desejosos de serem estrelas, de brilharem como o sol e a lua na noite. Mas tu cedestes à fantasia das falsas estrelas guias. Elas te sugaram o ego. Ficaste opaco. Teu brilho não é o original de uma criança descontaminada da fantasia nos sonhos de vida. Teu eu adoecido te impede de veres que fostes feito para habitar meu céu de estrelas. Perdeste a integridade ética de teu povo original. Estás afastado do chão de terra encimado das reais estrelas que podem te guiar rumo à cidade real, onde elas são de verdade, os dias não se acabam, e o engano na escuridão jamais te subtrai.
As luzes no céu marcam os dias, os anos e as estações. Elas te contam minha história na páginas de teu povo. O sol, a lua e as estrelas adicionam testemunhos de minha paciência ao tempo que se chama hoje. Como o sinal do arco-íris, os astros no firmamento contêm a escritura de minha aliança com a verdade e a justiça. Os sábios instruídos na minha palavra, contempladores anônimos do mover de meu céu, têm servido teus pais apontando-lhes o tempo das prestações de conta daquilo que se faz debaixo do sol e das estrelas. Não surpreendi os sábios do oriente quanto ao tempo de revelar-me na antiguidade que curtia o silêncio de minha palavra. Não surpreenderei aos que no silêncio da noite e na disciplina do dia aguardam novo céu e nova terra na novidade da ausência do engano.
Abasteço as luzes no céu para que iluminem o palco da vida. A terra é o leito da tua existência. Meus pés sobre a terra descansam. Sobre ela trago luz ao teu viver. Das estrelas comando a ópera da vida aos figurantes e protagonistas do roteiro que só eu dirijo. Meus filhos são protagonistas em minha obra. Algum, no entanto, se distraem encenando e contracenando. Tu és esse filho-ovelha em vestes de lobo. Teu chamado, contudo, é para cresceres humilde sabedoria, à medida da estatura do protagonista maior da existência humana. Tu não estás só, sempre estive em teu palco. Tu não me ouves pois não consideras que eu esteja atrás dos bastidores de teu show. Tu não me vês na platéia que te aplaude ou te abate. Estou no silêncio das estrelas. É preciso que recues dos holofotes, que observes meu script firmado na verdade. Então, bem desempenharás para o aplauso derradeiro. E me verás claramente através do véu que rasguei para clarear minha palavra em teu coração. Tu és meus pés no palco da vida. Posso descansar em ti?
Decidi que as luzes no firmamento cumpririam meu governo sobre o dia e sobre a noite. Elas obedecem à minha vontade como a orquestra ao seu maestro. Marcam o tempo em compassos de espera. O mundo todo vive o equilíbrio relativo entoado nas estrelas. Elas estão sempre à espera de minhas providências, e dão prosseguimento às transformações que trago sobre a vida de teus semelhantes. Faço novos os céus e a terra; faço-os passar no tempo das estrelas. Tudo passa com o tempo; tudo, mas as minhas palavras jamais passam.
Observas que te fazes mais ingovernável que minhas estrelas na esfera celeste? As estrelas cumprem meu querer enquanto resplandecem a luz que vem de mim. Se dobram à minha vontade. Governam o dia e a noite. Mas, e tu? Te dobras a mim? Governas teu dia e tua noite como uma estrela soberana? Estás sob meu governo? Ou te comparas às estrelas eternas, autônomas e cheias de luz própria? Entendes o que é soberba de coisas que cintilam?
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